Localizada na encosta nascente da Serra da Estrela, entre os 400 e os 800 metros de altitude, encontra-se a Covilhã. Única em Portugal, não só pelo seu perfil geográfico montanhoso, mas também pela integração do seu património histórico e fabril que se fundem na malha urbana da cidade.
Implementada num local privilegiado para a criação de gado e no caminho das principais rotas de transumância, cresceu ao longo de vários séculos passando de “sítio” de bom pasto a cidade de futuro. Viveu diversos altos e baixos que a dotaram de uma vasta e rica história e cultura.
Descubra um pouco mais sobre o passado desta cidade singular no nosso país!
A história da Covilhã iniciou-se há vários séculos, mas apesar da existência documentada de ocupação que remonta aos primeiros habitantes da Península Ibérica, bem como de uma reconhecida dinâmica comercial ligada à pastorícia, só em 1186 recebeu o título de Vila.
Com o objetivo de aumentar as defesas contra o vizinho Reino de Leão, D. Sancho I concede à Covilhã o seu primeiro Foral, dando-se por essa altura o início da construção das agora históricas Muralhas da cidade.
O cerco defensivo foi mais tarde alvo de uma ampliação ordenada por D. Dinis em 1300. As muralhas foram de tal forma importantes no contexto histórico da Covilhã, que ainda hoje é possível identificar alguns panos das mesmas, integrados na arquitetura de diversos edifícios da parte mais antiga da cidade. O fortalecimento deste complexo defensivo revela a importância estratégica da Covilhã na proteção e crescimento do Reino de Portugal.
Já no período renascentista, a Covilhã era uma Vila em franco crescimento nas mais diversas áreas, não só ligadas à agricultura e pastorícia, mas também à economia, cultura e indústria, onde os lanifícios começavam a ganhar expressão. É ainda neste período que a cidade inscreve o seu nome nas grandes navegações marítimas, com D. Dinis, Senhor da Covilhã, a integrar vários Covilhanenses nas expedições por si ordenadas. Entre os muitos notáveis ficaram para sempre ligados à história da Covilhã Frei Diogo Alves da Cunha, Pêro da Covilhã, Fernão Penteado, Rui e Francisco Faleiro, entre outros.
No final do século XVI, D. Luís de Menezes, Conde da Ericeira, instala na cidade a primeira Fábrica Real, denominada Fábrica de Sarjas e Beatas (Fábrica Velha) na Ribeira da Carpinteira, com o objetivo de terminar com a dependência de panos provenientes de Inglaterra. Com a chegada de mestres tecelões ingleses, a indústria de Lanifícios implementa-se em força e ao longo dos anos proliferam fábricas e manufacturas destinadas ao tratamento da lã, mas também alguns costumes, como o consumo de chá.
Após o terramoto de 1755, Marquês de Pombal, Primeiro Ministro de Portugal, traça um plano de desenvolvimento nacional de base manufatureira que viria a revelar-se de grande importância histórica. Reconhecendo a qualidade e peso económico dos tecidos produzidos na Covilhã, em 1764, D. José I ordena a construção da Real Fábrica de Panos junto à Ribeira da Degoldra, na qual foram utilizadas pedras da antiga muralha, que também tinha ruído pela altura da catástrofe. Atualmente, nos edifícios dessa mesma fábrica, temos a Universidade da Beira Interior, bem como o Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior.
No decorrer do século XIX, a história da Covilhã reescreve-se sendo elevada a Cidade em 1870. Esta condecoração deve-se à importância e crescimento da indústria de Lanifícios, sendo, pouco depois, a cidade portuguesa a registar o maior crescimento demográfico de todo o país entre 1878 e 1890. Na viragem do século detinha mais de 700 fábricas, entre pequenas e grandes indústrias, empregando mais de 4500 operários, número que continuou a subir. A rápida expansão e o aumento da pressão demográfica tiveram um grande impacto no urbanismo da cidade. As estruturas fabris de diversos propósitos e dimensões são ainda hoje facilmente identificáveis em quase todos os pontos da cidade.
Durante este período, os Lanifícios tornam-se de tal forma relevantes que em 1884, por intervenção direta do Governo, é criada a Escola Industrial Campos Melo (hoje, Escola Secundária), primeira do seu género no país. O ensino e aperfeiçoamento de técnicas industriais vem a demonstrar-se fundamental na implantação da Covilhã como o maior centro de produção de Lanifícios nacional, com reconhecimento a nível internacional.
O período que compreende o final do séc. XIX e o início da década de 1960, pode hoje ser considerado a grande época de ouro da Covilhã. A riqueza proveniente da indústria de Lanifícios deu azo à construção de inúmeros edifícios de referência que ainda hoje são marcos no dia-a dia e na história da cidade. Assistiu-se a um grande desenvolvimento económico-cultural, sobretudo após a chegada dos Caminhos de Ferro que aumentou a competitividade empresarial da região. O desenvolvimento foi notório, sendo construídos ao longo dos anos Bairros Residenciais, Salas de Espetáculo, Escolas, Bancos, Piscinas, Hospital, Unidades de Saúde, Jardins, Hotéis, Monumentos, Biblioteca, Mercado Municipal, Infraestruturas Desportivas, Tribunal, Palacetes entres muitas outras edificações de relevo.
O início dos anos 70 marcou um dos períodos mais negros e conturbados da história recente da Covilhã. Com o encerramento de inúmeras das fábricas, muitos operários perderam os empregos lançando o concelho para uma grave crise sócio-económica. Após a Revolução de Abril e a conquista dos direitos dos trabalhadores, acentuou-se a crise no setor, acelerando-se o já esperado declínio desta indústria. Os Lanifícios covilhanenses não souberam preparar-se para a entrada no mercado global, encontrando-se as fábricas francamente desatualizadas, fruto da falta de investimento e modernização, sustentadas na mono-industrialização com recurso a mão de obra barata e, em muitos casos, com produção exclusiva para as antigas colónias.
Contudo, foi também durante este período que se lançaram as sementes para o futuro, dando-se os primeiros passos para o surgimento de uma das mais importantes cidades universitárias em Portugal. Para fazer face às consequências socio-económicas que assolavam a região, surgiu a ideia de criar uma instituição de Ensino Superior capaz de possibilitar aos naturais da região o acesso ao Ensino Pós-Secundário.
Surge assim, em 1973 o Instituto Politécnico da Covilhã, mais tarde Instituto Universitário da Beira Interior e por fim, em 1996, Universidade da Beira Interior. A Universidade revelou-se uma aposta certeira criando uma autêntica revolução, moldando vincadamente a dinâmica da cidade. Ao contrário de muitos Campus, a UBI encontra-se dispersa com Polos em diversos locais ocupando antigos edifícios fabris devolutos. O crescimento da instituição não foi importante apenas na reformulação dos espaços, dotando-os de nova vida, como também foi o motor do relançamento da cultura e da economia da Covilhã.
Com o crescimento da cultura turística, a Serra da Estrela que sempre despertou o imaginário dos portugueses, tornou-se, a partir dos anos 80, um local de grande afluência a nível nacional, sobretudo na época de inverno para desfrutar da neve. Pela sua proximidade ao ponto mais alto de Portugal Continental, aproveita-se da sua posição geográfica para se afirmar como a principal porta de entrada na Serra. Assim, na viragem do milénio, destaca-se no panorama regional como a cidade com maior oferta Hoteleira em torno do maciço central.
Com o acentuar da procura turística, a fixação de jovens universitários formados, novos movimentos artístico-culturais e a criação de empresas deu-se a reinvenção de um local com mais de 800 anos de história.
Nos dias de hoje, a Covilhã, outrora fabril “Manchester de Portugal”, assume-se como uma cidade Universitária, Turística e de Serviços com fortes ligações ao passado. O reaproveitamento de espaços, mantendo as suas bases, têm hoje novos propósitos como espaços comerciais e de serviços, de ensino e coworking, enquanto outros foram convertidos em museus, unidades hoteleiras ou mesmo em espaços residenciais e artísticos.
Agora que já conhece um pouco mais sobre o passado da Covilhã, venha descobrir esta cidade repleta de história, com uma herança industrial invejável. Somos a cidade ideal para partir à descoberta da Região.
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